A corretora XP e escritórios de agentes autônomos credenciados têm reclamado com Banco Central (BC), Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Ancord, a associação das corretoras, sobre restrições impostas por grandes bancos em limites de transferências de dinheiro entre contas de mesma titularidade.
Com relatos e e-mails de clientes do segmento private, especialmente, os agentes autônomos apontam a redução nos limites pré-crise, baixa flexibilização e, em alguns casos, exigência de ir até uma agência bancária em tempos de pandemia. Os bancos rebatem: afirmam que já elevaram consideravelmente os limites de transações e que são raros os casos de recomendação presencial. A Febraban complementa que se trata de prevenção à fraude eletrônica.
A XP fez uma reclamação formal ao BC sobre isso na primeira quinzena de março. Um dos reflexos seria o encerramento de posições de investimento de clientes devido à limitação de recursos — quando o cliente tem uma posição que precisa cobrir margem de garantia, mas não consegue transferir esse dinheiro de uma só vez devido à restrição diária colocada pelos bancos. Assumindo o risco, a corretora tem que zerar a posição do cliente.
Conforme uma fonte próxima à empresa, nas corretoras do grupo — XP, Rico e Clear — isso ficou perceptível ainda porque os clientes reduziram os valores das TEDs mas aumentaram o número de operações. Ao invés de transferir R$ 300 mil, o investidor fez 10 TEDs de R$ 30 mil ao longo de 10 dias, para citar um exemplo real. A Febraban indicou, diante desse tipo de problema, que os agentes autônomos recomendassem aos investidores que reclamassem na ouvidoria dos bancos.
Sem ver efeito, os agentes passaram a recomendar a reclamação direta no Banco Central. O regulador e a Febraban não gostaram e questionaram a XP diante do rápido aumento de demandas registradas e pela não observância da recomendação feita pela federação. Procurada pelo Valor, a XP não comentou.
O Banco Central pediu um relatório com os registros de reclamações dos clientes. No Itaú, uma gerente recomendou ao cliente que pediu transferência de R$ 500 mil para sua conta investimento em outra instituição que vá até uma agência do Personnalité, dado que o limite institucional diário é de R$ 300 mil por meio digital — recomenda ainda que ele confira quais estão abertas. Há casos semelhantes citando Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, conforme as informações prestadas ao regulador.
O Itaú, no entanto, já aumentou em 50% o volume de limite diário do pré-crise para agora, em todos os segmentos, apurou o Valor — no caso do Personnalité, para esses R$ 300 mil. Procurado, o Itaú disse que das 390 mil transferências realizadas somente na semana passada, apenas quatro exigiriam comparecimento em agência. O banco complementou que os clientes podem solicitar eventuais ajustes nos limites aos gerentes.
O Banco do Brasil informou que “os limites transacionais foram todos majorados após o início do coronavírus”, sem informar montante. O Bradesco diz que não reduziu limites operacionais para TEDs e que flexibilizou limites operacionais nos canais digitais — afirma ainda que o cliente pode fazer autogestão de limite nos canais digitais. A Caixa não deu retorno.
A Febraban afirmou que os bancos já implementaram processos remotos e que por isso não há obrigação de o cliente ir às agencias. Afirmou também que acompanha as reclamações dos clientes e que “não consta aumento desse tipo de inconveniente” sobre transferências e que, por isso, não se pode dizer que é um problema generalizado nas corretoras.
A Febraban ressalta ainda que os limites diários são definidos conforme o histórico de comportamento dos clientes e que fazem parte do conjunto de medidas de prevenção a fraudes. O Banco Central não comentou; a Ancord não deu entrevista ou informou se recebeu demanda de outras corretoras.
O embate parece ser especificamente da XP. O Valor procurou outras plataformas para saber se identificaram o mesmo problema: o BTG Digital e a Órama não comentaram; a Guide diz que não há nenhum caso de cliente impossibilitado de realizar transferência; e a Genial diz que não notou um número elevado de questionamentos de clientes sobre o assunto. “Essa questão não saltou aos olhos no atendimento. Crescemos no primeiro trimestre e os clientes vieram principalmente dos grandes bancos”, diz Cláudio Pracownik, copresidente da Genial.
Fonte: Valor Investe