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Por que multimercados macro, como o Verde, têm tido desempenho tão ruim?

Terça, 24 Março 2020

A máxima “melhor errar com muitos do que acertar sozinho” ajuda a explicar por que os fundos multimercados macro têm tido um desempenho pífio em 2020. No início do ano, a maior parte dos gestores estava otimista (bull) com o “pacote Brasil”. Adotaram estratégias para lucrar com a valorização do Ibovespa, principal índice da Bolsa, e com a manutenção de juros básicos nos menores patamares da história. A dúvida era o dólar – haveria arrefecimento ou não do câmbio? Antes mesmo de chegarem a uma conclusão, o coronavírus se alastrou, mudando completamente as expectativas dos agentes financeiros. O otimismo deu lugar ao pessimismo, e os gestores correram para mudar as suas posições.

Mesmo assim, a maior parte dos fundos continua com resultados no vermelho. Dos 37 fundos analisados pela plataforma de investimentos Vérios a pedido da EXAME, apenas 13 estão no azul. Destes, somente cinco superam a projeção de inflação para este ano de 3,04%, segundo o último boletim Focus. Entre os fundos que mais caíram em 2020, se destaca o Vítreo Universia que tem 926 milhões de reais em patrimônio líquido. Ele recuou 20% no ano, dos quais 19% foram sentidos em março. “Houve uma queda importante do Ibovespa depois do carnaval e muitos gestores aproveitaram para recompor posição. O problema é que, naquele momento não se tinha ideia de que seria necessário um isolamento social com impacto expressivo para a economia e para os mercados”, explica George Wachsmann (mais conhecido como Jojo), gestor da Vitreo. Em outras palavras, não se sabia que nos dias seguintes as ações iriam cair mais – bem mais.

Segundo Jojo, a carteira do fundo até então se dividia em: de 35% a 40% em ações, 15% em fundos imobiliários (FII) e o restante em renda fixa. Desde meados da semana passada, depois dos tombos sucessivos do Ibovespa, o portfólio passou a ser composto por: 15% de ações, 10% de FIIs, 15% em câmbio, 15% ouro e o restante de caixa. “Essa nova composição fez com que nossas cotas recuassem apenas 0,38% ante a queda de 5,22% do Ibovespa, na segunda-feira (23).”

O fundo Verde também está entre os que mais perderam em 2020, e o motivo é que eles cometeram um erro grave: “começamos a comprar muito cedo”. Segundo a equipe liderada pelo gestor Luis Stuhlberger, em carta direcionada aos clientes, os mercados globais passaram por uma enorme crise de liquidez. Prova disso é que os ativos considerados seguros, como ouro e títulos americanos, caíram juntamente com ações e dívidas.

“Os fundos multimercados da Verde, dentro dos seus mandatos, mantêm um portfólio simples, e sistematicamente mas com parcimônia, temos aumentado a exposição ao mercado acionário americano. Vemos ali a melhor combinação de poder de fogo fiscal e monetário com lucratividade das empresas. Também mantemos exposição a ações no Brasil e na curva de juros real, focado entre a parte intermediária e longa”, afirmam na nota.

Os fundos citados acima historicamente ganharam muito dinheiro com o “pacote Brasil”. O problema é que a maioria perdeu o “instante decisivo” (expressão cunhada pelo fotógrafo Henri Catier-Bresson) para mudar a estratégia. “Quem conseguiu minimamente se antecipar ou estava neutro ou pessimista ficou à frente dos demais”, comenta Pedro Mota, gestor de portfólio da Vérios. É o caso do fundo do Itaú, o Itaú Hedge Plus, que, graças ao seu perfil conservador, acumula alta de 16% em 2020. O “instante decisivo” deles foi o anúncio dos dados preliminares da economia brasileira em fevereiro e a intenção do Banco Central de interromper o ciclo de corte de juros.

Onde investir?
Em meio ao cenário de caos para os multimercados macro, os investidores devem se perguntar se têm capacidade para aguentar esses solavancos – sempre levando em consideração de que fundos são investimentos de longo prazo. Caso a resposta seja positiva, o ideal é montar uma carteira com diferentes subcategorias de fundos multimercados (macro e long e short, por exemplo) para diversificar riscos e equilibrar retornos. “Também é importante analisar o perfil e o mandato de cada gestor (se é mais otimista ou pessimista) na hora de fazer a escolha da carteira de fundos”, afirma Juliana Machado, especialista em fundos de investimento da casa de análise EXAME Research.

Machado sugere que os investidores analisem o comportamento dos fundos nos últimos cinco anos para entender se os gestores conseguiram se sair bem em momentos de crise. Afinal, é sempre mais fácil ganhar quando o vento sopra a favor. Mas e se a gestora tiver menos do que cinco anos de existência? Como fazer a análise? “Nesses casos, o ideal é ler as cartas dos gestores, consultar sempre as lâminas dos fundos e, se possível, conversar com a área de relações com investidores para tirar dúvidas”, afirma a especialista.

Entre as várias opções no mercado, Machado recomenda investimento nos fundos multimercados macro das gestoras Legacy Capital e na Paineiras Investimentos. “Demonstram consistência na recuperação”, diz.

 

Fonte: Exame