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Reserva de emergência com rendimento negativo? E agora?

Quinta, 19 Março 2020

Nesta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 3,75%. Além de servir como base para empréstimos e financiamentos, a taxa básica de juros também determina o rendimento de muitos produtos de renda fixa que são atrelados a ela. E, com o corte, alguns dos investimentos mais usados para investidores deixarem suas reservas de emergência passaram a ter rendimentos reais (descontando a inflação) negativos.

A expectativa do mercado é de que a inflação medida pelo IPCA, em 12 meses seja de 4,01%, o que já tornaria o rendimento real (retorno descontando a inflação) das aplicações que seguem a Selic negativos. Para este ano, os economistas esperam uma inflação de 3,10%, segundo o Boletim Focus (levantamento semanal feito pelo Banco Central que traz as expectativas do mercado para os principais indicadores econômicos do país). Segundo cálculos do Valor Data, com a Selic a 3,75%, a poupança passa a render nominalmente, 2,63% ao ano, o Tesouro Selic, 3,02% e o CDI, 3,01%. Isso significa rendimentos reais negativos em 0,46%, 0,09% e 0,08%, respectivamente.

Mas e agora? O que fazer? Segundo especialistas, nada. Pois é. A estratégia agora é aceitar que, pelo menos por enquanto, as reservas de emergência podem render pouco (ou não render). O importante é continuar tendo uma reserva.

"Ainda é melhor aplicar em Tesouro Selic ou até na poupança pra ter alguma correção monetária. Se ele deixar debaixo do colchão, nem isso terá. Mas o investidor precisa saber que, pelo menos por enquanto, ele pode não ter um rendimento real", afirma o professor Cesar Caselani, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas.

Ele sugere, apenas, que os investidores que tenham aplicações em fundos que seguem o CDI repensem. "Nesses produtos, além do rendimento pouquíssimo atrativo, você ainda paga uma taxa de administração, não vale a pena", afirma. Para isso existem os fundos DI de algumas plataformas que não cobram taxa de administração, caso da Órama e do BTG Pactual Digital.

Fora isso, a sugestão do professor é aguardar para tentar avaliar para onde vai a economia, tendo em vista que os cortes nos juros são pontuais. "Estamos em um contexto fora do comum e mundial. Todas as atitudes tomadas agora estão focadas nesse contexto de pandemia, inclusive o corte dos juros. A maioria não seria tomada se não estivéssemos nesse cenário. Precisa ver para onde vai a Selic depois, porque pode subir", afirma o professor.

Na visão de Caselani, o que a pessoa física pode fazer, neste momento, é esperar. "Segure o dinheiro. Não dá para arriscar mais, buscar apetite, porque também não sabemos o que será do mercado acionário nos próximos dias. E também é preciso manter a reserva de emergência e evitar ter despesas desnecessárias", diz.

Pensando nos trabalhadores que não terão perda de renda com a pandemia, o professor ainda sugere que sejam feitos aportes maiores nos produtos da reserva de emergência, mesmo que eles rendam menos. "Se ele tem condição de aumentar a poupança, é um bom momento para isso, para ter uma segurança daqui para frente", diz.

A sugestão de Patricia Langoni, sócia da Guelt Investimentos, também é manter o dinheiro como está. Ela afirma que, para a reserva de emergência o Tesouro Selic continua sendo uma boa opção. "Vai render menos, sim, mas é mais seguro", afirma. Para ela, esses títulos são investimentos até melhores do que contas digitais que rendem em torno de 100% do CDI, como NuConta, PicPay e Mercado Pago, por conta da segurança que ele traz.

Para a especialista, caso o investidor queira mais rentabilidade, ele deve ir para o mercado de ações, mas sabendo dos riscos que ele traz. "Não é pra fazer reserva de emergência em ações. É pra deixar o dinheiro lá no longo prazo, que é quando as empresas tendem a se valorizar", afirma.

Para ela, no cenário atual é mais seguro investir nos papéis de empresas do que em títulos do tesouro que seguem a inflação. "As NTN-Bs têm prazos muito longos e a gente não sabe o que vai acontecer com a economia do país. Em ações, pelo menos o investidor consegue tirar antes. Agora elas caíram, mas a tendência é que depois subam", afirma.

 

Fonte: Valor Investe