Pressionado para cortar a taxa básica de juros Selic, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) se prepara para definir, no final da tarde desta quarta-feira, 18, a taxa básica de juros que irá vigorar até maio. Diferentemente das últimas reuniões, desta vez, as projeções do mercado sobre o que vai ser decidido estão longe de ser unanimidade.
Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset, avalia que a alta volatilidade do mercado dificulta qualquer previsão no cenário atual. Pela mediana do boletim Focus, um levantamento do BC com analistas do mercado, a previsão é de uma redução de 0,25 ponto percentual.
Porém, há quem acredite em um corte mais agressivo, de 1 ponto percentual ou mesmo na manutenção a taxa atual, que atualmente está na mínima histórica de 4,25% ao ano.
Desde o início de março, quando o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, cortou os juros americanos de forma emergencial, aumentaram as expectativa para o que o brasileiro seguisse os mesmos passos. Mas a recente alta do dólar, que chegou a fechar acima dos 5 reais pela primeira vez na história, coloca dúvidas sobre as pretensões do BC, já que um novo corte poderia contribuir para a valorização da moeda americana frente ao real.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, acredita que o melhor cenário seria manter os juros atuais. “Assim traria de volta o fluxo de dólar para carry trade”, disse. O carry trade é uma operação em que se toma dinheiro emprestado em países com juros menores e aplica em economias que pagam taxas superiores. Por isso, juros altos tendem a fortalecer a moeda local. Caso o BC decida reduzir a Selic, Laatus vê o dólar a cinco reais como a “nova realidade” do Brasil.
Já o mercado acionário, que costuma reagir positivamente aos cortes de juros, pode não se beneficiar de uma nova queda da Selic. Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, espera um corte de pelo menos 0,5 ponto percentual na taxa de juros, mas não acredita que isso irá impulsionar a bolsa.
“Recursos injetados na economia e juros mais baixos seriam motivos suficientes para as mesas de negociação dos bancos começarem o dia eufóricas. No entanto, na melhor das hipóteses, seu efeito benéfico sobre o mercado pode ser de curta duração”, escreveu em relatório a clientes.
Nos Estados Unidos, a última redução da taxa de juros, realizada pelo Fed no domingo, 15, (também em caráter emergencial), provocou uma onda de pânico no mercado financeiro e as bolsas americanas tiveram a pior queda desde 1987, fechando em queda de 12% na segunda-feira, 16. Na véspera, o presidente Donald Trump havia dito que o mercado deveria ficar “entusiasmado” com a decisão do Fed.
Para parcela do mercado, a saída da crise não está nas políticas monetárias, mas nas fiscais. Não adianta juros baixos e dinheiro acessível se todo mundo estiver dentro de casa e a demanda for represada pelo coronavírus”, disse Luis Sales, analista da Guide Investimentos.
Fonte: Exame