Os contratos futuros do Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira B3, começaram a ser negociados na segunda-feira em baixa de 9,5%, sinalizando que o dia vai ser turbulento no mercado acionário local. A bolsa brasileira deve acompanhar as quedas das asiáticas hoje. Já fechadas, a japonesa caiu 5,1%, e a chinesa, 3%.
Em meio ao pânico com o coronavírus, agora também a baixa do petróleo faz os investidores correrem dos investimentos considerados mais arriscados, como as ações, para buscar refúgio em aplicações tidas como seguras. Uma disputa sobre o preço do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita começou a tomar conta dos mercados globais na noite de domingo, 8, e já começa a ter seus reflexos nas primeiras bolsas abertas nesta segunda-feira, 9.
A petroleira estatal saudita Saudi Aramco anunciou ter planos de cortar o preço do petróleo em 20%, o que faria o preço chegar ao menor patamar desde 2016. O barril de petróleo do tipo Brent, que serve de referência para os preços, apresentava queda de 22,38% às 5h40 da manhã desta segunda-feira, a 32,04 dólares.
Mais cedo, chegou a cair quase 34%, negociado a 27,34 dólares, o menor valor desde fevereiro de 2016. A queda é ainda pior do que a apresentada nos contratos futuros de ontem à noite, logo após as informações da decisão da Saudi, quando o barril caía cerca de 20%.
O anúncio da Saudi vem em meio a uma guerra interna entre os produtores de petróleo. Com a queda no consumo global gerada pelo coronavírus, os sauditas propuseram uma redução na produção na última reunião da Opep (que reúne os maiores produtores de petróleo), mantendo ou aumentando preços.
Os russos foram contra, uma vez que seu orçamento é mais preparado a um cenário de preços baixos, segundo o analista Thiago Duarte, do banco BTG Pactual. Em retaliação, os sauditas planejam aumentar sua produção de petróleo em 10 milhões de barris por dia, aumentando a oferta mesmo em um cenário de consumo baixo.
A guerra por mercado está declarada. O cenário joga ainda mais incerteza sobre os mercados globais e é reflexo claro dos impactos do coronavírus. O banco Goldman Sachs espera redução de 150.000 barris de petróleo na demanda global, e crescimento zero na demanda da China. Além disso, a Saudi decidiu ir adiante mesmo sem aval da Opep, o que, na prática, destrói o potencial de acordo e a importância do grupo, que conseguiu chegar a acordos nos últimos três anos.
Neste cenário, as bolsas asiáticas fecharam em queda no pregão desta segunda-feira. Na China, os índices de Shenzhen e Xangai caíam 4,09% e 3,01%, respectivamente, enquanto Hong Kong caiu 4,23%. O japonês Nikkei caiu 5,07% e, na Austrália, o principal índice caiu 7,33%. O europeu Stoxx 600 caía 6,15% às 6h desta segunda-feira, enquanto o índice de Londres caía mais de 8%. Os contratos futuros do americano S&P 500 caíam mais de 5% às 5h. A volatilidade no preço do dólar na comparação com o iene chegou a seu maior nível em 11 anos, enquanto a volatilidade euro-dólar é a maior desde 2017.
Enquanto os produtores de petróleo estão longe de um acordo sobre as desavenças do fim de semana, os casos de coronavírus chegaram a 110.146 infectados no mundo, com mais de 30.000 pacientes fora da China — e que representam a maioria dos novos casos recentes.
A Itália, onde há mais de 7.300 infectados, colocou parte de sua população em quarentena neste fim de semana. Após queda acumulada de quase 6% na semana passada, o Ibovespa não poderia começar a semana com presságios piores para os próximos dias.
Fonte: Exame