É uma queixa comum dos profissionais quantitativos, mas também difícil de provar: há uma concentração exagerada de investimentos tradicionais baseados em fatores. Agora, um gestor de perfil sistemático diz ter encontrado a resposta.
Um novo estudo da Capital Fund Management constatou que a estratégia de momentum — que aposta nas ações de melhor desempenho no último ano e faz sucesso nos EUA — está ficando extremamente cara na prática.
Considere um investidor cujo algoritmo acabou de avisar para investir milhões nessa operação. Se os rivais estiverem vendo a mesma informação em suas telas, uma enxurrada de compras pode aumentar os custos de transação e corroer os lucros que os gestores poderiam colher com essa estratégia subjacente.
Esse problema foi documentado no estudo da CFM, que analisou anos de dados de mercado. Dinâmicas semelhantes também dificultam a vida dos profissionais quantitativos voltados para fatores, que dissecam ações por outros ângulos, como valor relativo e tamanho.
“Isso significa que o preço que você pode conseguir quando está tentando executar a negociação é maior do que você pensava inicialmente por causa da pressão vinda de outras pessoas”, explicou Jean-Philippe Bouchaud, coautor do artigo publicado em janeiro e presidente do conselho da CFM. “Então o custo extra — embora proveniente de uma correlação bastante pequena — é suficiente para abocanhar uma parte substancial do sinal.”
As conclusões de Bouchaud se alinham a temores de longa data de que a popularidade está matando o investimento em fatores, que atualmente movimenta US$ 2 trilhão, de acordo com uma estimativa. Resgates e volatilidade atormentam gestoras quantitativas tradicionais que aplicam uma ampla variedade de estratégias, levando algumas delas a adotar novos dados ou estratégias mais rápidas.
Surfando a incessante onda de valorização das ações de tecnologia, o chamado momentum tem sido um dos grandes vencedores na ascensão do mercado após a crise, superando uma referência global em todos, exceto dois, dos últimos 10 anos.
Sua volatilidade também veio à tona quando a estratégia registrou o maior tombo diário em uma década em setembro passado — um miniterremoto que muitos atribuíram à desalavancagem rápida por grandes investidores. Desde então, esse estilo de investimento recuou bastante.
A CFM vasculhou mais de 1.000 ações diferentes e descobriu que a correlação entre sinais de compra por momentum e desequilíbrios de mercado que aumentam os custos de transação subiu desde 2012. Os pesquisadores capturam essa noção observando a diferença entre o preço executado e o preço médio e os volumes de compra em relação aos de venda.
Olhando de cima, “as transações baseadas em momentum representam uma fração de minuto do que está acontecendo no mercado”, disse Bouchaud. “Mas o ponto interessante que estamos tentando demonstrar no estudo é que é o suficiente para induzir custos de transação da mesma ordem de magnitude que os ganhos da estratégia.”
A equipe encontrou sinais semelhantes de concentração exagerada em estratégias de valor e tamanho, embora as evidências sejam menos nítidas porque essas estratégias são mais lentas. Os dados não deixam claro se a concentração nesses dois fatores se intensificou ao longo dos anos.
De modo geral, é um quadro sombrio para o famoso modelo de fatores desenvolvido pelos acadêmicos Eugene Fama e Kenneth French, que inclui valor e tamanho.
“Os custos estimados de impacto sugerem que o investimento simples em fatores segundo Fama-French está próximo da saturação”, escreveram os autores do estudo.
Fonte: Bloomberg